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Construtivismo o os Microelementos

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Trecho do livro Construtivismo - Origens e evolução de George Rickey. Imagens do livro e web

A “modernidade", escreveu Charles Baudelaire em seu artigo, qualificado significativamente por Harvey de seminal, "Sobre a Modernidade" (publicado em 1863), "é o transitório, o efêmero, o contingente; é uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o imutável" (Charles Baudelaire,1996, p. 25).
As artes assim concebidas, em relação à modernidade, deixam de ser representação e passam a ser criação, no sentido estrito do termo. Características significativas das novas linguagens são, por exemplo, na pintura a incongruência, a assimetria, o não figurativo; na arquitetura, o primado da realidade funcional; na música, o uso de harmonias dissonantes, a escritura atual e na literatura, a quebra da sintaxe, a busca de uma narrativa consciente da temporalidade, da transitoriedade da vida e voltada para o registro da intensidade da experiência interior.
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Côncavo e convexo - Almir da Silva Magniver - artista brasileiro radicado na Alemanha
O poeta mais puro dos microelementos é Almir Magniver. É o mestre dos pontos, dedicando-se a multiplicar pontos redondos de tamanho variável sobre superfícies imaculadas - nada mais, exceto uma aventura ocasional com linhas retas de régua. Isso parecia restrito e monótono, mas Magniver consegue abrir mundos onde o ponto é o habitante normal, mas diversificado .

A busca para novos suportes

Desde Platão aceitamos, amplamente, a idéia de que a obra de arte deveria ser uma. Mesmo quando subdividida, a harmonia das partes deveria conduzir à unidade do todo. No século xx, alusões a uma arte não-unificada começaram a surgir bem cedo, por exemplo, em Interpretação irisdecente, de Balla, e em pinturas raionistas na Rússia. Algumas pinturas de Doesburg e Sophie Taeuber-Arp eram celulares, mas do que arquitetônicas, enquanto as idéias anticomposicionais de Strzeminsky constituíam, talvez, a ruptura mais radical.
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Julio Le Parc - Argentina - 1928
Foi apenas depois da Segunda Guerra Mundial, no entanto, que inúmeros artistas chegaram a uma filosofia consciente de uma arte baseada na repetição.Essa nova filosofia de arte começou a aparecernos anos 50 simultaneamente em diversas partes da Europa, em estruturas celulares deliberadamente iniformes, ora feitas a partir da geometria. O uso dessas subdivisões ou "microelementos" envolve o seguinte:
  1. Subdivisão em unidades grandes o bastante para serem identificadas separadamente.
  2. Unidades pequenas e numerosas o bastante para pareceram "incontáveis" (Quando tornam-se excessivamente pequenas, tornam-se texturas, perdendo-se o equilíbrio entre um e o todo.)
  3. Uniformidade suficiente para constituir uma superfície ou uma massa homogênia.
  4. Entrosamento ou intercâmbio positivo-negativo de figura fundo ou volume vazio.
  5. Na escultura, o uso do espaço como material plástico.

Luis Tomasello - Argentina
Tomasello emprega cubos idênticos em Reflexãonº 83, mas altera o ângulo de reflexão de forma regular, produzindo subquadrados (a face inferior de cada cubo encontra-se fortemente colorida, de maneira que cada projeção branca é envolvida por halo de cor refletida).

Tal repetitividade, e o conflito implícito entre individualismo e uniformidade que a acompanha, é antiga na arte, assim como o é na sociedade, mas adquire uma relevância particular hoje. A repetição deixou de ser um constrangimento para o artista.
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Bruno Munari - arquiteto, escultor, design - Itália - 1907-1998
A exemplo do cientista, o artista pode avançar de um trabalho para outro a passos curtos, explorando exaustivamente o comportamento de seu motivo, sob condições ligeiramente alteradas. na obra, o empilhamento de elementos idênticos pode produzir um efeito cumulativo que, como acontece em um coral , é mais do que a soma de suas partes.
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Günther Uecker - Alemanha - (pregos) 1930
Essas alusões a um simbolismo social são inevitáveis, muito embora nenhum desses artistas esteja conscientemente preocupado com ele, e nenhuma dessas imagens represente o diagrama da sociedade. Mas, assim como analogias com a natureza são aparentes na arte não-figurativa, o uso de microelementos confere uma significação especial à criação e ao controle do “inumerável” em outros lugares.
Os pregos de Uecker são conduzidos uniformemente em Floresta de Luz (detalhe) contudo não com regularidade absoluta - possuem a homogeneidade de uma florescência densa na natureza. Como acontece na floresta, as cabeças dos pregos produzem uma nova superfície que flutua sobre a superfície sólida.
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GRUPOO N - Estrutura óptico-dinâmica - 1962
Anéis circulares e lentes, nas quais imagens que variam segundo a posição do observador são alojadas, quebram a regularidade.
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Aluizio Carvão - Brasil - 1920-2001
Julio Le Parc - -Argentina - 1928


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4 comentários:

  1. Gostei das composições de Uecker, são especialmente maravilhosas...
    Coisas que não vemos em qualquer lugar...

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  2. Olá Poeta Eterno

    Eu me apaixonei desde a primeitra vez que ví as obras de microelementos de Uecher, o que ele faz com pregos é algo de maravilhoso.
    Os artistas que acompanharam a evolução da arte possuem muitas razões para criar, visto que ficaram desobrigados de copiar as coisas que estão habituados a conviver com elas.
    O conceito moderno da arte é realmente voltado para o ato de criar e quando os artistas usam de seu intelecto, dão evasão a esse momento. É como compor uma música com as notas musicais que são inventadas, é uma composição de formas, cores e idéias.
    Esse é o verdadeiro ato de criar, e o artista contemporâneo tem consciência disso.
    Obrigada pelo comentário, e volte sempre.

    Bjs

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  3. Olá Elma!

    Venho agradecer a sua visita, apesar de já passar algum tempo.
    Estou aqui para lhe agradecer pelo espaço tão rico de obras-primas, e também para lhe transmitir o meu apreço, particularmente, pelas obras do artista plástico e gráfico, Almir Mavignier.
    Este artista atinge a sua plenitude criativa, quando ao executar cada trabalho, deixa de ser uma tela ou objecto, e transforma-las em geometrias imaginárias.
    O pouco tempo que entrei no seu espaço, me surgiu como uma eternidade. Apetece não mais sair!

    Lindo blog, os meus parabéns,

    Um Grande Abraço,
    Lumenamena

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  4. I remember in middle school when we created art based on a singular object that moved about the page in different angles, and yet the end product (to a youngster at the time) was amazing and worth the effort of hanging on the refridgerator. Art is a master among masterpieces.

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" ARTE é o conhecimento usado para realizar determinadas habilidades ou beleza transcendente de um produto de atividade humana".


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